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domingo, 26 de dezembro de 2010

9 ♥


“Agachada em frente da lareira, o calor das brasas aquece-me o rosto, mas o frio não cessa. Viro-me de costas para esta, com a cabeça entre os joelhos. Sinto o mundo girar, gelado. A sala, meio iluminada pela luz vinda do corredor, está estranhamente pequena. O sofá de 3 lugares, vazio, diminuiu bastante. O armário alto repleto de livros parece mais baixo. De repente, ponho-me de pé, o que me fez cambalear, e vi o cimo do armário facilmente, agora que ele tinha diminuído. Mas o sofá já não estava vazio. Os meus olhos param na penumbra. Pergunto baixinho: "És tu?" Um par de olhos sorri para mim.. A família está toda a dormir um andar acima, e nenhuma das portas da sala foi aberta. Eles não são. "Quem és?" Não obtive resposta, só um ligeiro sorriso. Eu conheço esse sorriso, pensei. "É impossível, alucino?" Um ligeiro abanar de cabeça confirma a minha suspeita. Não ousei mexer um dedo, pois sabia que aquela estranha visão iria desaparecer. Após uns segundos, talvez minutos, talvez horas, arrisquei: "Vais dormir?" Não me respondeu, fechou os olhos e aconchegou-se no sofá. Mesmo que tivesse espaço para mim, não me iria aproximar do sofá para me deitar, apesar da enorme vontade de aconchegar aquela personagem. Senti mais um arrepio, continuava gelada, mas não tremia. Sem olhar para trás, saí da sala, subi as escadas e apaguei a luz, entrei no meu quarto, fechei a porta, deitei-me num lado da cama, tapei-me e apaguei o candeeiro da mesa-de-cabeceira. Não me atrevi a olhar para o outro lado da cama, sentia a sua presença lá. "Boa noite...", disse eu suavemente num sussurro. Mais uma vez, silêncio. Nem um movimento. Sabia que não era real, mas também sabia que parte do meu cérebro estava a criar a ilusão, e não a quis apagar. Alucinações. Delírios. O telemóvel na mesa-de-cabeceira parecia tornar-se maior, para me engolir, e no instante seguinte reduzia-se. O mesmo aconteceu com outros objectos, mas na realidade nem eles nem eu nos movíamos ou mudávamos de tamanho. Inocentemente, soube que a personagem do outro lado da cama me protegia, apesar de não estar ali na realidade. Continuei deitada de lado, de costas para o lado oposto da cama, durante algum tempo, até que me pus de barriga para baixo, sem nunca desviar os olhos da parede para a qual estava virado. Tinha sono, frio e uma grande dor de cabeça. Mas sentia-me confortada com a presença misteriosa criada pela minha mente. "Amo-te…", pensei, e creio ter adormecido nesse instante.”

5 comentários:

Anónimo disse...

está lindo mesmo manuela :')
estou aqui, sempre que precisares (:

Mónica disse...

bueno! x)

Rute disse...

Hey, Manuela!
Está tão bonito! *-*
É dos melhores textos que tens, gémea! <3
Amo-te!

Anónimo disse...

Deliro é com esse rabo pah!!

PR disse...

Para um blog destes vêm fazer esses comentários... -.-